fragmentos plásticos, resíduos metálicos, moeda e um par de luvas.
33 cm x 20 cm x 10 cm (fechado).
Os materiais estão acondicionados em pequenas caixas de acrílico e plástico. O material foi recolhido nas margens da Represa do Rio Jundiaí, distrito de Taiaçupeba, Mogi das Cruzes-SP. Antes do local ser alagado pelas águas da represa, existia um jardim chinês, o Jardim das Oito Virtudes, do pintor Chang Dai-chien (1899-1983).
Eram 9 horas de um domingo ensolarado apesar do habitual frio de agosto. Esse ano a temperatura está imprevisível, mais do que nos anos anteriores. Combinamos de nos encontrar com Fabiano, artesão e morador local, nosso guia até o Jardim das Oito Virtudes, ou o que restou dele. Chegamos, eu, uma amiga e minha mãe, mais cedo do que o combinado. Paramos o carro embaixo de um pinheiro. O chão estava forrado de pinhas. Fabiano nos recebeu com um sorriso e pediu para seguirmos seu carro. Em pouco tempo, a estrada de asfalto sinuosa terminou e mergulhou na represa. Pela lateral esquerda, seguimos as marcas dos pneus por um caminho de terra formado pelos carros dos pescadores de domingo. Alguns já estavam no local. Continuamos pela trilha, desviando das pedras e raízes até um descampado e seu capim seco em frente à represa. Espaço frequentado por garças e pescadores. Paramos nessa clareira, o nível da represa estava baixo. Segundo nosso guia, em novembro o nível da água fica ainda mais baixo e é possível ver as construções de antigas chácaras, piscinas e parte do jardim do pintor chinês Chang Dai-chien, que viveu ali entre 1954 e 1973. O pintor mudou-se para os Estados Unidos com a notícia da implantação da represa do Rio Jundiaí e de que seu jardim seria alagado. Além disso, problemas de saúde contribuíram para a decisão da mudança de país. É preciso fazer um exercício de imaginação para materializar, ainda que mentalmente, o que foi o lugar na época de Chang. O jardim era formado por lagos serpenteados por caminhos de cascalho, onde o andar fazia barulho. Havia pequenas construções por entre esses caminhos, pés de caqui, mata nativa, montanhas, pedras minuciosamente colocadas e animais exóticos como macacos e pavões. Abri os olhos e retornei para o tempo atual. Vi alguns sapatos velhos abandonados, sacos plásticos, ruínas de construções, garrafas, conchinhas, carapaças de caramujos, sinais de fogueira, restos de tijolos, papel de bala, dentre outros detritos. Crianças brincavam na represa. Um potro atravessou o bambuzal, passou pelo capim seco e foi tomar água na represa enquanto sua mãe o observava de longe. Fabiano nos mostrou uma casa antiga na parte mais alta do terreno. Segundo ele, a casa era moradia de um dos discípulos de Chang. Ela foi ampliada e parte da família desse discípulo ainda mora lá. O terreno que margeia a represa continua pertencendo à família do pintor chinês. Caminhando é possível ver marcas da fundação de antigas construções. A maior parte do Jardim das Oito Virtudes permanece submersa. Só é possível chegar até a entrada do jardim (ou o que restou dele) – marcas do que talvez fosse um acesso ou muros que indicariam seus limites. Foi possível ver um bando de garças descansando nas ruínas que emergiram da água. Nosso guia informou que, quando o nível da represa está mais baixo, é possível chegar até lá caminhando. A coleta dos materiais durou uma hora. Entre os materiais, destaca-se um “torrão” de barro entremeado de pedrinhas. Fabiano disse que era um fragmento do muro que pertencia ao jardim. Também foram coletados: uma pena de passarinho, um pedaço de carvão, algumas folhas secas, pedras, conchinhas, duas cascas de caracol africano, um fragmento de mármore e resíduos domésticos. Em grande parte, o lixo encontrado no local era formado por embalagens e garrafas, provavelmente, descartados por visitantes que usam o local para acampar e pescar.